É ainda uma grande utopia pensar em paz mundial e harmonia plena entre os seres. Até os animais ditos irracionais, parecem se saírem melhores em questões de convivência com o respeito as diversidades.
Há aqueles que adoram dizer que não tem preconceitos os que assim afirmam ou mentem ou desconhecem a si mesmos. Desafio a quem pense ou diga isso, que analise minuciosamente a si mesmo com honestidade e vai chegar a conclusão de que têm tantos preconceitos quanto qualquer um, somos cheios de medo, críticas, desejo de controlar, de dominar, de sentimentos e atitudes de egoísmo e egocentrismo, de mecanismos de defesa. Não sabemos lidar de forma saudável e respeitosa, com a nossa autonomia e liberdade, pois acabamos, cedo ou tarde, passando por cima da liberdade do outro e impondo a nossa vontade, verás o quanto ainda temos que aprender a se conhecer e a conhecer ao outro, se formos sinceros o bastante, para reconhecer isto, é claro.
Geralmente julgamos sermos bons, afinal, eu não roubo, não mato, não sou como aqueles lá...
Quantas vezes, talvez, você não tenha roubado os sonhos de alguém ou se usurpado deles?
Ou, mesmo, sabendo dos sentimentos sinceros de outra pessoa, não fez uso disso para tirar proveito dela e poder realizar seus desejos egoístas e assim, quando esta não mais o servia para seus propósitos, a descartou como um objeto usado e sem valor?
Quantas vezes você não matou a esperança e a fé de alguém, ao lhe dizer em sua fúria, que esta pessoa nunca ia ser nada na vida, que ela deveria desistir, que ela não era boa o bastante, não era bonita o bastante, para realizar os seus sonhos e objetivos?
Ou mesmo, observando o sucesso ou o progresso alheio, não começou a se esforçar para de alguma forma prejudicar esta pessoa, afinal você não foi com a cara dela ou acha que você é quem deveria estar no lugar dela?
Pensando dessa forma, será então, que podemos afirmar que nunca roubamos ou matamos?
Claro, você pode pensar, mas, isto nem se compara com alguém que rouba objetos de valor como dinheiro, alguém que mata um outro ser humano. Sim, concordo, mas, em seu sentido ético, isto também não faz de nós pessoas que praticam maldades, que cometem erros e falham?
Somente cada um pode convencer a si mesmo de seus erros e maldades, ainda que julguemos que somente os outros, são maus. Ninguém e nem nada, poderá fazer isto por nós mesmos. É uma condição única e exclusiva, trata-se de um direito básico do ser humano, o livre arbítrio ou vontade própria e com base nele, tomar as devidas atitudes para corrigir as falhas ou não.
Somos todos humanos, feitos da mesma essência, da mesma matéria, o que nos diferencia uns dos outros é a maneira, o estilo, o conteúdo, a forma como lidamos e exteriorizamos, nossos pensamentos e sentimentos.
Todos, tememos, nos envergonhamos, nos defendemos, nos rebelamos, ficamos com raiva, com ódio, temos inveja, julgamos, condenamos e isto se expõe através dos racismos, segregações, fascismos, ideologias, violência e discriminações em nossos instintos e desejos mais primitivos . O que fazer com relação a isso? Já que somos assim, não podemos mudar? O negócio é deixar o tempo rolar e este se encarregar de mudar essas questões por nós?
Creio que ou aprendemos a reconhecer estas falhas em nós e a lidar com isso de forma honesta e proativa através do conhecimento de si mesmo, diálogos, humildade e respeito mútuo, ou recairemos sempre no mesmo erro e passamos a ser hipócritas e condenar nos outros o que existe em nós mesmos.
O erro maior, acredito eu, não é em se ter preconceitos, afinal ele faz parte de um processo natural de autodefesa, de nos proteger do que não nos é conhecido e natural , do que é novo e do que pode nos fazer supostamente mal. O que não podemos nos permitir é que baseados nesse preconceito, tomemos atitudes de ordem social, física e moral, para se discriminar e aniquilar o que não nos agrada, o que nos é diferente ou não conhecemos. Não reconhecer o preconceito em nós mesmos é permitir que ele se cauterize e crie raízes e como um câncer pode ter certeza, ele irá nos afetar socialmente, emocionalmente e quiçá espiritualmente.
Olhe ao seu redor, veja o quanto nos aglomeramos em guetos, grupos, sistemas institucionais, gangues, tipos, estereótipos, tribos, o quanto nos sentimos superiores aos demais, seja pela aparência, pelo dinheiro, pela moda, pelo partido ou ideologia política, pela cultura, pela espiritualidade, religião ou pela falta dela, pela intelectualidade ou pela falta dela, pela sexualidade ou pela falta dela, enfim, vivemos com rótulos, padrões estipulados por nós mesmos e pelos os outros enquanto sociedade e quem não se adequar a determinado comportamento sempre é vitima de preconceito e discriminação.
Damos valor ao ter e não ao ser, não importa o que você faça, se você tem beleza, se você tem dinheiro, você, sim é alguém valorizado socialmente. Se não os têm, não é alguém que mereça ser devidamente valorizado.
Criamos a tecnologia, mas, a usamos para nos acomodar de pensar, de raciocinar por nós mesmos. A utilizamos para nos dividir, para nos excluir, para dominarmos uns aos outros, para criar guerras, armas nucleares e biológicas, inventamos sempre uma tecnologia nova, porém, não inventamos uma tecnologia capaz de conhecermos a nós mesmos, de nos vermos como semelhantes, não como idênticos simbióticos sem individualidade, apenas semelhantes.
Antes de estipularmos o que somos, a que raça pertencemos, a que sexo pertencemos, se somos negros, brancos, pardos, amarelos, homossexuais, heterossexuais, bissexuais, homens ou mulheres, devemos pensar que antes disso, somos seres humanos, se o que nos diferencia dos animais é a capacidade de falar, pensar, raciocinar, de percebermos os erros e podermos evitá-los, deveríamos fazer jus a isso e não ignorar esta capacidade e agir como seres incapazes de ter domínio próprio.
Pensamos e agimos para o bem e para o mal, cada qual como escolher, segundo suas concepções, porém, não estamos sós, somos seres individuais, mas, também sociais que vivemos no coletivo, então sua atitude influi na vida do outro sim e também na vida dos demais seres vivos do planeta.
Segregar, hostilizar, contribuir para perpetuação das desigualdades, não nos farão melhores, não nos protegerão das consequências negativas dessas atitudes a longo prazo. A falta de consciência, não nos abdica da responsabilidade que isto implica.
Ter opiniões, porém, não se fechar à elas, de tal forma que não se veja as demais possibilidades e oportunidades que existem. Ter flexibilidade, porém, coerência e ética pessoal.
O respeito mútuo, o diálogo, a empatia, estas atitudes nos farão pessoas melhores, não melhores do que ninguém, apenas melhores e diferentes do que éramos no passado.
A evolução da espécie não deveria ser medida pelo tempo em que se vive ou pelas mudanças biológicas e fisiológicas decorrentes desse tempo e sim o quanto aprendemos, conhecemos, interagimos e nos desenvolvemos como indivíduos e como sociedade, em liberdade e diversidade que existe em nós.
A conquista espacial não é necessária, a vida extra terrestre não nos importa, enquanto não conquistarmos o essencial com dignidade, amor e respeito, o espaço em que vivemos. Enquanto nos vermos como rivais, não haverá evolução, haverá extinção da vida humana.
E você? Ainda acha que não têm preconceitos???
